quinta-feira, 14 de março de 2013

A homofobia nossa de cada dia

      Hoje foi a primeira reunião (deste ano) do Identidades, um grupo de estudantes da Unesp Bauru e demais interessadas(os) em conversar sobre assuntos relativos à SEXUALIDADE E GÊNERO e promover ações voltadas à conscientização da comunidade Unespiana, tais como campanhas de combate à homofobia, ao machismo e causas afins. Tomei ciência da existência do grupo este ano e ingressei nele. Sai da primeira reunião animada! Se a lógica é a de que devemos começar as mudanças pela nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, então acho que estamos no caminho certo: passamos boa parte de nossas vidas na Universidade, portanto é nela que enxergamos problemas e contradições, e nela que podemos/devemos buscar intervir. É o primeiro passo pra "mudar o mundo", como, no fundo, no fundo, sonhamos todos. Mesmo aqueles que já tomaram um choque de realismo da vida há muitos anos, como eu. Afinal, se cada um fizesse um pouquinho,  mas fizesse algo em sua comunidade, muita coisa mudaria. Questão de lógica pura, não de idealismo.

      Enfim, ironicamente, mal cheguei da reunião do Identidades e me deparei com frases homofóbicas da minha mãe e irmã durante o jantar. Não lembro bem como se chegou a isso, mas o diálogo foi mais ou menos assim:

Irmã: É verdade, tem um monte de biba afetada no mundo...

Mãe: Eles me irritam! Não sei porquê ser assim.

Eu: Se te irritam, é só você não ser "uma biba afetada". Por que te irrita, se não é com você?

Mãe: Ah, porque me irrita! Nem mulher é daquele jeito! Não tem necessidade, me incomoda!

Eu: Não vejo porque a sexualidade alheia, e a forma como cada pessoa escolhe manifestá-la, possa te incomodar, se não diz respeito à sua vida. Deixe cada um ser como quiser. Ah, quer saber? Não vou discutir isso pela milésima vez com vocês. Acabei de sair da reunião de um "grupo gay" [não, o grupo não é só para gays!] na Unesp, e aí venho ouvir besteira homofóbica na minha própria casa?! [Fim da conversa].

     ... Algum tempo depois, no Facebook, li a seguinte frase, da qual desconheço o/a autor(a): 

"Dizer que o casamento de outras pessoas é errado porque vai contra sua religião é o mesmo que ficar irritado por alguém comer um doce se você está de dieta..."

     A frase serve como uma luva para a conversa que eu havia tido anteriormente, e me fez lembrar desse vídeo genial no qual - em uma peça de humor Stand Up - Wanda Sykes fala sobre o casamento gay:



     ...Beleza! Aí eu precisei de ajuda pra fazer o "curativo" da tattoo que estou fazendo, e minha mãe veio ajudar. Não resisti e coloquei o vídeo pra ela assistir. Como eu esperava, ela não aguentou até o final dele. Antes de sair do quarto, argumentou:

Mãe: Não é verdade isso que ela fala! A gente tem que se envolver em questões que não nos afetam, sim! E essas campanhas pra proteger o meio ambiente? Então ninguém deveria fazer? E de proteção aos índios?

Eu: Ok, concordo. Tem algumas coisas que não dizem respeito diretamente a nós e nas quais devemos intervir. Mas intervir pra proteger ou ajudar, é uma coisa. Intervir pra condenar ou impedir alguém de ser feliz, é outra. Não distorça o argumento!

Mãe: Não foi isso que ela disse! Ela disse que ninguém deveria se meter em qualquer coisa que não lhe afete!

Eu: Tudo bem, ela disse. Mas é humor. No humor, às vezes se apela. Ok, essa frase não é totalmente válida, mas isso não altera ou desmerece as outras coisas que ela falou!

Mãe: E isso me afeta! [UÉ, MUDOU O ARGUMENTO, PRODUÇÃO?!] Me incomoda você ser gay!

Eu: Mas por que te incomoda se sou EU que sou gay? Você não precisa ser gay!

Mãe: Porque você é minha filha, você saiu de mim.

Eu: Mãããe, eu já sai de você, eu sou minha agora!

Mãe: Falar a favor do casamento gay, assim, é fácil, quero ver você achar alguma mãe de filho gay que vá falar isso também!

Eu: Mãe, mas tem um monte de mães de gays nos movimentos LGBT. Tá cheio de mães que não tem o menor problema com isso! E outra coisa: você tá falando mal do vídeo, mas sequer conseguiu assisti-lo até o final!

Mãe: Ééé... Não é que eu não consegui! É que eu tô com sono! Sabe que horas acordei hoje??...

     É, Brasil, essa é a homofobia nossa de cada dia! Minha intenção não é a de expôr ninguém em particular, mas sim a de não me calar e denunciar todo ato homofóbico, mesmo que "pequeno", mesmo que "light", mesmo que aos olhos de quem os pratica, e talvez aos olhos de quem os sofra, ou de quem esteja lendo esse blog, isso pareça desnecessário, e o ato, inofensivo. Não é inofensivo. Homofobia nunca é!!

      A síntese do dia? "Se você é contra o casamento gay, não se case com alguém do mesmo sexo!"

    Simples assim! Não precisa se incomodar com a felicidade alheia, não precisa lutar contra o casamento gay. Aliás, agora eu posso CASAR (moro no estado de SP), BRASEEEEELLLLLLL :)

sexta-feira, 8 de março de 2013

LUTO - Morrem os direitos humanos no BR!


      "O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), conhecido por declarações homofóbicas e racistas, foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara nesta quinta-feira 7. A escolha de Feliciano, manobrada pela bancada evangélica, ocorreu sob alta tensão. Deputados ligados à causa dos direitos humanos se retiraram da reunião, em protesto contra o nome do pastor e também em razão da proibição, determinada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de que a votação na CDHM ocorresse a portas fechadas. Manifestantes ocuparam os corredores da Câmara, mas foram impedidos de entrar na sala em que a escolha foi oficializada (Revista Carta Capital, 07/03/2013)".


      Sinceramente, me sinto tão atordoada - mesmo agora, mais de 24h após a eleição do referido deputado - que não consigo dizer muita coisa. Sinto como se não tivesse conseguido processar! Talvez não queira acreditar que este país - tão cheio de corrupção, falta de ética e falta de educação, mas também tão cheio de riquezas, talentos e belezas de todos os tipos - ao qual sempre exaltei meu amor e orgulho, chegou ao disparate máximo de eleger para a Comissão de DIREITOS HUMANOS E MINORIAS um deputado homofóbico, racista, sexista e fundamentalista (detalhe: eleito apenas por deputados evangélicos, já que todos os que discordavam da candidatura de Marco Feliciano se retiraram da votação, em sinal de protesto). Como pode?! É como eleger um nazista para combater a violência contra judeus! Não tem nexo, não tem ética. Que vergonha! Estou de LUTO!! Morreram os direitos humanos, morreu a dignidade, morreu a laicidade do Estado, morreu até um pouco do meu orgulho de ser brasileira. Recuso-me a acreditar que tudo ficará por isso mesmo. Recuso-me solenemente! Não pode ser, não quero viver num país assim! Está rolando desde ontem um abaixo assinado no site do Avaaz, solicitando o afastamento de Marco Feliciano. Votei, e aqui compartilho, pedindo o voto de tod@s brasileir@s que se recusam a aceitar tamanha indecência em nosso país. Vamos votar, galera! Vamos nos unir! Se você não fizer nada, está sendo conivente. Então, faça o mínimo, faça o possível, MAS FAÇA.

CLIQUE PARA ASSINAR A PETIÇÃO!!!!!!!


      Atos de repúdio a Marco Feliciano também serão realizados amanhã em várias capitais do país (adoraria estar em uma delas para poder participar!):





Manifestantes impedidos de entrar na sessão que ocorreu a portas fechadas - no dia anterior, manifestantes e alguns deputados haviam conseguido adiar a votação para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Desta vez a bancada evangélica conseguiu manipular a situação.


segunda-feira, 4 de março de 2013

Smartphones, stupid people?



      
      Essa frase anda circulando em várias imagens no facebook, e traduz exatamente o que me questiono sobre celulares, tecnologia e... futilidade. Há certo tempo atrás fui acompanhar uma amiga no shopping. Lá, encontramos com uma terceira pessoa, que estava ansiosíssima para comprar o novo Iphone 5, lançado na semana anterior. Chegando à loja, o aparelho já havia se esgotado.  Até aí, tudo bem, certo? Bem... Mais ou menos. Em primeiro lugar, estamos falando do celular mais caro do Brasil no momento: como assim os aparelhos, caríssimos, foram  TODOS vendidos em apenas uma semana?! Ainda mais surpreendente que isso foi a reação da moça interessada em comprar o tal aparelho. Ficou triste e lamentando-se conosco por mais de uma hora. Mais do que isso, afirmou que não ter conseguido comprar a mer%$ do Iphone 5 havia acabado com a noite dela. Fiquei indignada, revoltada! Aquilo era tão essencial, tão necessário, ou tão importante a ponto de arruinar a noite de alguém?! Não, né?! Em tempo: Ela tem um Iphone 4S, também comprado quando do lançamento do mesmo. Mas a moça em questão é apenas um exemplo, citado aqui porque foi o a experiência que vivenciei e, definitivamente, esse post não tem a intenção de fazer uma crítica pessoal a ela (que como qualquer pessoa, como eu e você, é dotada de muitas qualidades e muitos defeitos), muito pelo contrário... Mas, quantas e quantas moças e moços assim não estão por aí, deixando-se levar por esse consumismo fútil e desenfreado?! Quanta gente é incapaz de enxergar que a sociedade capitalista precisa produzir “necessidades” ilusórias de consumo para vender seus avanços tecnológicos e assim se sustentar? Quanta gente, cega a tudo isso, gasta às vezes um dinheiro que nem poderia, pra comprar tais produtos, apenas por uma questão de status social?!
      
      Ah, pode me chamar de antiquada, de chata, do que quiser, mas acho tudo isso muito fútil. Não, não tenho nada contra você ter um celular android ou Apple bacana, com wi-fi, internet 3G, touch screen e todos os outros mimimis! Absolutamente nada contra os celulares nem os tantos outros aparelhos hi-tech, desde que possuí-los não seja como uma necessidade vital para você. Desde que não seja apenas uma forma de se sentir na moda, descolado (a), e portanto, aceito(a). Eu ainda não tenho um... Porque a grana é quase sempre curta, e as prioridades são outras. Até mesmo o dinheiro que dedico ao lazer e afins nunca é dedicado a isso. Tenho um celular velho, cuja maior evolução tecnológica é o mp3 e o Bluetooth. Não tem internet, não tem teclado de smartphone. Talvez seja por possuir esse celular “antigo” (antigo?!) que, quando estou em alguma reunião social, tão facilmente percebo o quão presente os smartphones e afins se tornaram na vida das pessoas: outro dia, sentada à mesa de um barzinho com amigas, notei, por mais de uma vez, que em alguns momentos, todas na mesa ficavam mudas, cada uma entretida com seu próprio celular (e eu sobrando!), acessando a internet, vendo atualizações de facebook, postando fotos recém tiradas, em tempo real. E as conversas cara a cara? E a paquera cara a cara? E a vida cara a cara?! ...Ah, e claro, todos os celulares eram smartphones, afinal, é uma vergonha colocar na mesa, ou utilizar em público, um celular que não seja o que está na moda, não é?!?!?



Nota de rodapé: esse texto não tem a pretensão de fazer qualquer tipo de demagogia, apenas se detém a fazer uma análise crítica. Não vivo em uma bolha, também adoro internet, sou viciada em facebook e por muitas vezes me importo em estar na moda, em vários aspectos. E, sim, algum dia, mais cedo ou mais tarde, provavelmente vou ter um celular desses. Quando isso acontecer, espero usar a tecnologia a meu favor, não contra. Espero não deixar de socializar com quem está ao meu redor pra olhar pra uma tela de LCD, e ainda bancar a cool com a galera por ter o aparelho de celular X. Amém.